Interessante exemplo da natureza para refletirmos sobre educação. A postura do animal em dificultar a tarefa do filho com o intuito de prepará-lo.
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Artigos sobre educação selecionados por mim. Abordam de maneira apenas superficial a pedagogia.
Minha experiência com o Ensino à Distância
Durante o verão de 2009 tive pela primeira vez a oportunidade de realizar um curso à distância. Eu era super cético quanto a essa modalidade de ensino, mas como a oportunidade me foi oferecida de graça, mesmo o conteúdo não sendo atrativo para mim, resolvi fazer. Era um curso de Direito em Informática. Como eu estava curioso sobre a mecânica de um curso à distância, e dada a credibilidade da instituição que iria aplicar o curso (a FGV), decidi levar a sério, como se a aprovação nessa disciplina fosse uma obrigação na minha faculdade imaginária. Em resumo: gostei do que vivi… aprendi sobre direito autoral em informática, e gostei dos recursos utilizados na didática on-line. Mas eu percebi uma lacuna a ser resolvida: como aferir com precisão o aprendizado. Os métodos tradicionais e presenciais sempre foram a forma inequívoca de fazê-lo; no ensino à distância não seria diferente, com o desafio adicional da verificação da autoria (evitando plágios). Nos dois casos, ainda era necessário um processo laborioso na aferição do aprendizado.
No ano que passou (2013), por sugestão de um colega, fiz um curso à distância no site EDX, oferecido por nada mais, nada menos do que a Universidade Berkley. Fazer um curso ministrado por David Patterson (autor do clássico livro de Arquitetura de Computadores que usei na pós-graduação) já seria motivação mais do que suficiente para mim, mas além disso o curso versava sobre Engenharia de Software, e era extremamente relevante para minha atualização profissional. Levei a sério o curso. Fiz nas minhas férias de janeiro, quando tinha tempo suficiente para lidar com os puxados trabalhos práticos. Ralei muito. Gostei tanto que fiz a parte 2 do curso, já no mês de agosto, em um período de plena carga de trabalho para mim. Não houve jeito a não ser sacrificar boas horas dos meus fins de semana fazendo os trabalhos da parte 2 do curso. Mas valeu cada minuto.
Ganhei dois certificados, e exibo-os com orgulho:
O que mais me impressionou nesses cursos foram as ferramentas de avaliação automática… você disponibilizava sua resposta de exercício – um software – e outro software verificava, de acordo com especificações determinadas no enunciado, se ele funcionava como o esperado… quanto mais requisitos cumpridos, mais pontos valia. Vejo nisso o nirvana no ensino à distância em computação e pretendo investir nisso neste ano, agora do lado da docência.
Recomendo, para quem domina minimamente o Inglês, que faça esses cursos. Quem o fizer, ou já tenha tido uma experiência num curso à distância, por favor compartilhe comigo suas impressões!
Ao Mestre, com Carinho
Foi com grande pesar que soube, através de um amigo, da passagem do Prof.Horácio Soares Neto neste ano de 2012.
Ele foi meu professor na década de 90 no curso de Tecnólogo da PUC. Tive o privilégio de cursar uma disciplina de metodologia de desenvolvimento de software com ele. Autor do livro “Análise Vital de Sistemas”, obra que teve grande influência na minha formação; por ela, tive transformada a minha visão pré-concebida de análise de sistemas, com a introdução de um elemento transformador no processo: os porquês.
Que nosso Deus, nosso santo Pai, o receba nos céus, pois em Terra ele contribuiu, certamente, ao educar e inspirar centanas de discípulos.
O Exemplo de Salman Khan
Esbarrei com essa interessante reportagem sobre o educador Salman Khan na revista Veja. Americano que veio do mercado financeiro e passou a se dedicar ao ensino pela internet está atraindo grande interesse da comunidade educacional.
Como professor, sempre acreditei que o maior desafio e diferencial de um professor reside na forma como ele consegue motivar e inspirar seus alunos. Assistindo às aulas do Prof.Khan, pude perceber o quanto a concisão e o uso eficiente dos recursos tecnológicos – sem muitas firulas – aplicados na tradicional aula expositiva podem contribuir para o ensino de qualidade.
Recomendo fortemente aprender sobre como ensinar com alguém que, ao invés de simplesmente teorizar o ensino, aplica na prática seu método. Avalie por si mesmo.
Site do Prof. Salman Khan: http://www.khanacademy.org/
Site com as vídeo-aulas tradizidas: http://www.fundacaolemann.org.br/khanportugues/
Palestra onde Salman Khan apresenta seu método: http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/salman_khan_let_s_use_video_to_reinvent_education.html
As diferentes formações em computação
Até mesmo quando ingressei num curso de informática não estava claro para mim os diferentes cursos de formação que havia no mercado. Eu acabei cursando o tecnólogo em processamento de dados na PUC-RIO, o que fez toda a diferença na minha formação.
Para aqueles alunos e ingressantes na informática que têm dúvidas sobre qaul curso escolher, recomendo fortemente essa reportagem da revista eletrônica Olhar Digital. Espero que lhe seja útil ao escolher o seu curso.
Para a modalidade tecnólogo, o site oferece um artigo detalhando as diferenças dessa modalidade das demais. Aproveite!
http://olhardigital.uol.com.br/produtos/central_de_videos/programa-352—22-01-2012
Convém Sonhar
Convém sonhar
Por Miriam Leitão (coluna publicada no O Globo, 29/6/2008)
Manezão gostava de brincadeiras brutas, agressivas. Um senso de humor esquisito. Era o chefe de disciplina do colégio. Ele entregou ao mais franzino dos dois meninos pobres de Garanhuns, que entravam na escola pela primeira vez, um balde e uma vassoura e disse: “Este é seu lápis, este é seu caderno!” Eles teriam que trabalhar na limpeza para ter bolsa para estudar no renomado colégio XV de Novembro.
A mãe dos meninos tinha pedido bolsa aos diretores durante um encontro na escola dominical, na Igreja Presbiteriana. Analfabeta, extremamente pobre, queria que os filhos estudassem. Sonho antigo e persistente. Foi por ele que decidiu sair de Recife e tentar a sorte no interior do estado.
— Vamos para Garanhuns que os meninos precisam estudar — disse ao marido.
Eram os anos 20 do século passado. O analfabetismo era dominante no Nordeste; ela queria para os filhos outro destino. Bolsa, os diretores americanos, que fundaram o colégio, avisaram que não davam. Mas aceitaram que dois deles estudassem de graça, se concordassem em trabalhar no colégio. O mais velho dos dois irmãos que ganharam a bolsa-trabalho tinha 13 anos; o mais novo, 11. Anos depois, a família conseguiu que entrasse nesse grupo o caçula, então com 7 anos.
De tarde, eles varriam as salas e lavavam os banheiros. De madrugada, espanavam as carteiras e mesas. Depois iam para a aula como todos os alunos. A mãe orientava que só vestissem o uniforme após terminada a limpeza e depois que se limpassem no banheiro do colégio. Ela sempre entregava a eles uniformes limpinhos, que, às vezes, secava no ferro durante a noite. Nem sempre estavam bem alimentados.
— Trabalhávamos para estudar e ainda passávamos fome — relatou recentemente o mais novo dos irmãos.
Foram eternamente gratos à oportunidade que receberam e retribuíram estudando muito. Os três foram alunos brilhantes, de pontuar nos primeiros lugares, de queimar etapas com provas no estilo supletivo.
Orientados pelos diretores e professores do XV de Novembro, continuaram seus estudos para além do ginásio, além de Pernambuco. Os três foram para o seminário presbiteriano em Campinas. O curso era apertado, nota mínima 8. Estudava-se não apenas teologia. Saía-se de lá com várias licenciaturas, para o trabalho de professor do ensino médio. No seminário, o menino que recebera de Manezão o balde e a vassoura tinha tão bom desempenho, esforçava-se para falar português tão irretocável, que recebeu o apelido de “mulatinho pernóstico”.
Ele dava de ombros, porque sabia dos seus sonhos e estava decidido a realizá-lo: sonhava dirigir um colégio e, quando estivesse nesta situação de poder, dar bolsa a meninos pobres, como ele, que teriam então a chance que teve. Era isso que pedia nas orações que costumava fazer num morro de Garanhuns chamado Monte Sinai. Passava por lá entre um biscate e outro que fazia — de vendedor na feira a pintor — para ajudar a renda baixíssima e instável da família. O pai era pedreiro em frente de obras, nem sempre tinha trabalho e renda.
Quando se mudou, aos 28 anos, para o Vale do Rio Doce, fundou, em Caratinga, junto com outros líderes locais, o primeiro ginásio da região. Como diretor, fazia exatamente aquilo a que se propôs na adolescência: distribuía muita bolsa de estudo. Não o fazia em troca de trabalho. A alguns dos bolsistas mais velhos, muito pobres, também ofereceu trabalho assalariado no colégio.
Os três se dedicaram à educação, os três se dedicaram à igreja. Dividiam-se entre as duas frentes de trabalho. Como acreditavam no ensino laico, não misturavam as duas. Foram excelentes professores nas escolas onde ensinaram. Foram brilhantes oradores nas igrejas.
A fé em Deus era inabalável, a paixão laica que tiveram era a educação. O mais novo e o mais velho também fizeram Direito. Dos três, o mais dedicado à educação foi o do meio, exatamente o menino franzino que tinha recebido o balde e a vassoura. Além do colégio que fundou e fez prosperar em cursos superiores, abriu escolas públicas em outras cidades, a pedido do governo do estado, na época da interiorização do ensino fundamental em Minas Gerais. Ele mesmo estudou a vida inteira, como autodidata e leitor voraz, os mais variados assuntos: da filosofia à física quântica.
Tiveram sempre orgulho de terem trabalhado para conquistar o direito de estudar num colégio de excelente qualidade de ensino. Nunca se deram conta de que trabalhar cedo demais era um absurdo. Achavam que foi uma troca justa à qual lhes coube corresponder. De Manezão, vingaram-se fazendo dele uma figura folclórica nas famílias que constituíram. “Brincadeira de Manezão” passou a ser a expressão que designava a atitude de humor grosseiro, da pessoa que agride, quando tenta brincar.
O mais velho, Boanerges, morreu aos 62 anos. O mais novo, Nathanael, está vivo e lúcido aos 85 anos. O do meio, o menino franzino, alvo da brincadeira do Manezão, é Uriel, o meu pai. Ele morreu exatamente há 10 anos, em 29 de junho de 1998. Quando estava velando seu corpo, um homem se aproximou de mim e disse que tinha sido menino de rua até que meu pai lhe deu bolsa no colégio e no internato, e tinha virado juiz de direito. Outro contou que trabalhava na roça, era analfabeto, até a visita do meu pai. Passou a estudar e virou gerente de banco. Histórias assim foram me enchendo de orgulho naquele dia difícil.
Nathanael, meu tio, fez o sermão do culto de ação de graças pela vida dele. Ao lado do corpo do irmão, começou dizendo: “Este homem sonhou. Convém sonhar.” Essa história sedimentou em mim a confiança na força da educação.